sábado, 4 de abril de 2009

Educação de Jovens e Adultos
Ciências
PRESSUPOSTOS FILOSÓFICOS DA DISCIPLINA
O ensino como um todo traduz uma potencialidade criativa de promover uma ação efetiva em favor de uma (trans)formação antropo-social. Este propósito se torna ainda mais eminente no processo de discussão dos temas e conceitos relativos à disciplina de ciências. Esta disciplina caracteriza-se por despertar uma certa curiosidade “natural” derivada de conhecimentos do senso comum.

Há uma tendência em se imaginar popularmente que a ciência (disciplina) tem por “obrigação” explicar fenômenos. Isto facilita o processo por um aspecto, pois já há uma tendência a se buscar este conhecimento, e por outro aspecto gera uma responsabilidade ainda maior, pelo fato de tratar de tópicos, fenômenos e conceitos muito próximos da realidade cotidiana. As afirmativas anteriores, não tendem a supor que as outras áreas do saber não tenha as mesmas características citadas. O que se pretende é afirmar que tem-se um contexto muito particular, com o qual deve-se contar. Cabe ao educador e a educadora permitir que o saber seja tratado de forma próxima ao cotidiano do educando e da educanda. De acordo com FROTA-PESSOA, GEVERTZ e SILVA (1979, p. 62)

“Outro vicio das aulas tradicionais de ciências é que o professor se interpõe entre a natureza e o aluno, cuidando servir de interprete; mas consegue apenas funcionar como barreira que oculta ou deforma a realidade”.

Dito isto, cumpre-nos dizer que o ensino de ciências (assim como o ensino em geral) é por excelência uma atitude de comprometimento e reflexão sobre a condição do homem e da mulher no planeta. Não se trata meramente do trato de fenômenos naturais, de fundo ambientalista, mas numa compreensão ecológica da realidade em que vivemos. Esta tendência carrega consigo discussões de ordem social, política, econômica e antropológica, uma vez que estudos atuais vem percebendo que os problemas ambientais são amplamente multidisciplinares. Não cabe mais uma discussão compartimentalizada, mas um estudo transdisciplinar, envolvendo a complexidade e a ética do saber numa profundidade necessária e essencial a este propósito.

O Ensino de ciências no ensino fundamental não deve ser encarado como um complemento do que se trata em outras disciplinas, mas como uma proposta, em que se quer desenvolver no indivíduo (discentes), importantes alterações de concepção e leitura de mundo:
Compreensão de sua inclusão no meio ecológico;
Análise de sua ação frente ao meio em que vive;
Implicações econômicas, sociais, antropológicas e culturais das ações desordenadas sobre o meio ambiente;
Capacitação do sujeito nos aspectos crítico, criativo e curioso, tornando agente de construção de novos conceitos;
Reconhecimento das implicações ideológicas e intencionais que se mascaram na seqüência dos conteúdos;
Compreensão do indivíduo numa totalidade, entendendo o homem como um ser bio-sócio-pscio-transcendente.

Assim contempla-se uma série de necessidades de toda a comunidade escolar. De acordo com D’AMBRÓSIO (1999, p. 15)
“... o professor deve subordinar sua disciplina, em particular os conteúdos, aos objetivos da educação e não subordinar a educação aos objetivos, à transmissão e aos avanços de sua disciplina. O aprendiz deve ser, como indivíduo, o determinante do conhecimento que lhe é transmitido”.

Isto não deve implicar, no entanto, numa renúncia à função da educadora e do educador, mas ao contrário, deve representar um passo decisivo em favor de uma educação impactante e comprometida. Uma outra expectativa criada diz respeito à necessidade de executar atividades experimentais no sentido de comprovar, testar e experimentar conceitos. Mas a experimentação não representa a compreensão de tal conceito, apenas permite uma fixação e conhecimento mais conforme afirma GURGEL (2000, p.20-1) quando diz que

“...não basta a aplicação de mecanismos mais amplos e completos para mudar e/ou inovar as práticas laboratoriais. É necessário ir além, sobretudo, com apoio das referências filosóficas e históricas da ciência, para entendermos o que se quer pesquisar,como, porque e, ainda, para que servirão os resultados da investigação. Esta dimensão vai possibilitar uma visão complexa, global (ou holística) dos problemas e ainda, uma ampliação da percepção critica sobre o método científico de alunos e professores frente às práticas experimentais da Física, porque o conhecimento cientifico não se constrói a partir do nada, ao contrário, ele apresenta um caráter social e histórico que deve ser levado em conta no processo ensino-aprendizagem”.

O resgate histórico de diferentes conceitos permitirá que se alcance um determinado grau de complexidade, que permite identificar razões para compreender o conhecimento tal qual temos hoje.

Uma forma importante e significativa de se buscar estes conceitos é a utilização das tecnologias no processo educativo. Assim é possível explorar diferentes universos e contextos não-físicos no sentido de garantir a compreensão da complexidade que envolve o universo humano e planetário. Segundo LEMOS (2006)

“O espaço do saber é criado a partir da expansão das mídias de comunicação e dos meios de transportes modernos (paradoxalmente existe um relação direta entre a locomoção e as mídias) e, principalmente com o nascimento de uma nova economia baseada na aceleração de trocas, na abolição de limites geográficos e com o surgimento do tempo real”.

Essa velocidade com que os acontecimentos se sucedem é fundamental para que a educação possa estabelecer um vinculo de interesses e curiosidades de tal envergadura que possa efetivamente ser vista como formadora de novos seres humanos.

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